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Archive for Maio, 2012

110km – 2400m de acumulado

Finalmente o resumo do terceiro dia, foi um dia longo, não durou tanto tempo como a publicação deste post mas foi quase tão difícil.
O dia começou cedo em São Bartolomeu de Messines, pois seria o dia mais longo de todos. E o primeiro pacote energético a ser logo tomado ainda na Ti Raquel com a seguinte repasto!

Os primeiros kilometros levar-nos-iam a percorrer a vila de São Bartolomeu de Messines que já haviamos descoberto na noite anterior.


Após sairmos da localidade a algarviana conduzia-nos agora à barragem do Funcho. O trilho desenvolveu-se durante uma série de kilómetros como que contornando a albufeira, e mais uma vez era possível constatar que este ano a chuva era escassa.

Já sobre o paredão, aproveitamos para tirarmos uma foto de modo a juntarmo-nos ao movimento do momento, neste caso fizemos um planking perfeito no coroamento da barragem do funcho, à cota +40m acima do leito do rio Arade…impressionante!


Talvez tenha sido a ultima risada do dia, pois a serra Algarvia, no seu esplendor, aguardava por nós!
Descemos até à margem do rio, a jusante da barragem, e assim permanecemos por quase um quilómetro até nos embrenharmos nas subidas da serra, a primeira ia dos 70m até aos 240m em pouco mais que uma milena de metros, vá lá que o David furou e deu para descansar um pouco… Era altura de experimentar uma das magníficas câmaras de ar compradas em Cachopo…
Furo reparado e voltamos ao sobe e desce que o interior algarvio já nos havia habituado.

Quase a chegar a Silves e poucos quilómetros após o furo anterior e a câmara de ar demonstrou toda a sua qualidade, novo furo, na roda da frente do David…foi realmente um bom negócio…

O caminho prometia…

Daqui até Silves, apesar da dureza do terreno, não nos deparámos com grandes dificuldades, a chegada a Silves fez-se por um trilho bastante rápido junto ao leito de um pequeno riacho, ao qual se seguiu um single track pelo meio das estevas. O trilho não passa no centro de Silves, apenas nas suas imediações, foi aí que procurámos água e uma simpática senhora se deu ao trabalho de ir a casa encher 6 bidons, qualquer coisa como 5 litros, estava a ser o dia mais quente de todos e a água rapidamente desaparecia.
Quando retomámos o percurso, o João, apercebeu-se que a sua bicicleta estava mais leve, tinha perdido o GPS 😦 como o single track anterior era bastante pedregoso e irregular, voltámos atrás na esperança que o GPS se tivesse soltado nesse local…no entanto a procura revelou-se infrutífera, apôs a perda tivemos que retomar o caminho pois fazia-se tarde, ainda faltavam bastantes quilómetros.
Mais à frente encontrámos uma placa do percurso que nos alertou para o que nos esperava, 28km até Monchique com subida à Picota, depois da Picota descíamos para Monchique e depois disso seria subir à Foia, sendo o final sempre a descer até Barão de São João.
Talvez o Angel pressentisse qualquer coisa, pela seriedade demonstrada neste compasso de espera…

…ainda nos esperavam quilómetros muito duros, de um constante sobe e desce, até ao sopé da Picota, que só ele conseguiu percorre-los sempre montado, e com alforges, impressionante! Começamos por subir até à cumeada destas serras e aí, subidas e descidas curtas, mas íngremes sucediam-se umas às outras. Depois de mais alguns vales ultrapassados, começamos a ficar sem água e o Emanuel insistia em comer as sandoxas preparadas em Messines, já eram horas de almoço.
Ao contrário dos dias anteriores em que era uma constante a passagem por pequenas povoações, esta etapa era despovoada e largos quilómetros foram feitos sem se avistar uma habitação, o que juntando a altas temperaturas do dia rapidamente a água começava escassear nos bidons.
Encontrámos finalmente uma casa, onde fomos pedir água mas tinham pouca para nos fornecer, apenas tinham um ou outro garrafão para uso próprio, contudo indicaram-nos uma outra casa mais à frente que tinha um furo de água.
Logo após esta primeira casa o Emanuel, fez birra e sentou-se na berma do caminho e sacou da sandes e lá fizemos o nosso almoço. Na casa seguinte, onde fomos pedir água, fomos recebidos por 10 cães nada satisfeitos por nos verem, que parecia que nos queriam morder, mas lá apareceu a dona que depressa apaziguou o ânimo dos animais e nos deu água…. Bem Haja!
Daqui foi sempre a descer até à ribeira de Odelouca, onde encontraríamos o grupo da Associação Almargem, que tinha saído de Sagres no mesmo dia que nós de Alcoutim, e faziam o caminho inverso a pé. Estavam a almoçar debaixo da nova ponte sobre a ribeira…

Em conversa com o grupo, o João contou o que tinha sucedido ao seu GPS e qual a provável localização, em resposta eles propuseram-se a procurar o aparelho. Tomámos o nosso caminho e após este encontro os ânimos estavam exaltados, não víamos caras tão simpáticas há muito tempo…

Um pouco mais à frente foi a vez do Angel ter um furo. Os problemas continuavam, já tínhamos utilizado as magníficas câmaras de ar de Cachopo, restavam as remendadas há duas noites atrás. O Angel substitui a câmara de ar e retomámos o caminho.
Estávamos perante a subida do dia, iríamos subir da cota 20 até aos 760 metros de altitude, era a Picota…mas logo no início da subida o pneu do Angel mostrou não estar pronto…e tivemos novamente de trocar a câmara de ar…e com isto vão 4 😦
Já a meio da subida enquanto o Angel e o David bebiam água numa fonte, pertença de uma casa de retiro espiritual ali próxima, o João e o Emanuel aproveitavam para se refrescar com os pivots de rega do batatal junto à estrada.

Estávamos quase a chegar, apesar do cansaço, todos nós nos mantínhamos em cima das burras, a Picota estava próxima.

Ao chegarmos quase ao cume da Picota, optamos por fazer o caminho até Monchique pela estrada, em vez de seguirmos pela via Algarviana, dada a dificuldade apresentada do último troço, subida ingreme com muita pedra, impossível de seguir montado. Decidimos atalhar uma vez que esta ultima parte iria tomar-nos muito tempo extra, tempo esse o qual já era um bem escasso com todos os azares anteriores.
Descemos até Monchique pela estrada e paramos junto ao Intermarché para um lanche e repensar os kilometros finais até Barão de São João, o nosso destino para este terceiro dia.

Eram 18h, e faltavam cerca de 50km até Barão de São João, onde iríamos pernoitar, que incluíam a subida à Foia, não tão difícil como a anterior, e passar ainda por Marmelete. Optamos então por tentar fazer corta mato, indo pelas estradas da região, perguntámos a uns bombeiros que nos orientaram na nossa viagem. E lá fomos, tínhamos como referência Casais e depois Arão, teríamos que ir perguntando…
Continuamos o nosso caminho, e estava já a fazer-se de noite, faltavam ainda uns 40 km´s para o nosso destino quando o Angel furou novamente, as câmaras de ar estavam esgotadas, a sorte no meio do azar foi que o furo era de pequena dimensão que permitia com umas bombadas de ar encher a câmara de ar e andar na mesma mas com grandes dificuldades.
Já a escurecer, encontramos um Senhor já de certa idade, uma verdadeira pérola com dois dentinhos salientes, e que aproveitamos para perguntar a quantos Km´s ainda ficava a localidade de Barão de São João, ao que o mesmo respondeu:
– He pá não tenho orçamento para isso!
Resposta brilhante 🙂 partimo-nos a rir é claro 🙂 Falar em orçamento…. Aquelas horas…. Memorável! Ou melhor não há memória 🙂
Mais à frente e já depois das 20h, perto do autódromo do Algarve, perguntamos a uma senhora que conduzia uma carrinha, e que segundo ela, muito experimentada nas artes da condução e conhecedora daquela zona, Barão de São João ficaria a cerca de 50km, estávamos muito longe. Ficamos preocupados mas seguimos caminho, com algumas pausas pelo meio para voltar a encher um pouco mais o pneu do Angel…

Eram já 21 horas da noite, continuamos pela estrada, e o David é atacado por 1 cão…. Que dia!!! Felizmente o David ainda teve forças para fazer um belo de um sprint que o cão nem com 8 patas conseguiu morder ao David 🙂
Tinhamos de Jantar eram quase 22 horas e ainda restavam cerca de 15 km´s para o nosso destino. Resolvemos parar num restaurante á beira da estrada e pedimos para Jantar e fomos aceites tal como estávamos… “Porcos” 🙂
Jantar, que se constituiu de 6 pregos, 8 colas e 4 cafés pela módica quantia de 39€…já não estávamos no interior algarvio. Recordámos Parizes…
Voltamos á estrada, sem luzes nas bicicletas e apenas a pouca luz da lua que nos permitia seguir caminho, estávamos apreensivos, mas tinhamos de continuar pelas estradas municipais do concelho de Lagos, passando por Bensafrim, até chegarmos finalmente ao Monte Rosa em Barão de São João pelas 23h.
O casal holandês aguardava-nos, apesar da hora, com simpatia e mostrou-nos os nossos aposentos, uma pequena casa, onde podiam dormir quatro pessoas à vontade, o merecido descanso depois de um dia pleno de percalços. Mas antes de deitar tínhamos que remendar as câmaras de ar e lavar mais alguns calções…

E a comprovar a magnificência das câmaras de Cachopo…hei-de lá voltar…aqui demonstrada neste pequeno vídeo…

Foi um dia “sem espinhas”…amanhã sim, seria um dia mais tranquilo a serra Algarvia tinha terminado…

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